odontologia hospitalar

A coordenadora do curso de Odontologia da UninCor campus Belo Horizonte, Mariana Mourão de Azevedo Flores Pereira, fala sobre a importância da higienização oral na prevenção das infecções respiratórias em pacientes internados em UTIs e como a adoção de protocolos adequados podem evitar a permanência hospitalar desses pacientes, incluindo aqueles com Covid-19. Confira! 

Professora Mariana: O trabalho do Cirurgião-Dentista habilitado em Odontologia Hospitalar potencializa, em até 60%, a redução das chances de desenvolvimento de infecções respiratórias em pacientes internados. Os dados são de um estudo realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. A assistência odontológica é fundamental para prevenir as pneumonias virais, que inclui a covid-19, assim como outros tipos de pneumonias associadas a bactérias na cavidade bucal. Essa visão preventiva pode evitar em até 30% as infecções hospitalares.  

O Conselho Federal de Odontologia - através da Resolução CFO-162/2015 - deliberou a Odontologia Hospitalar como área de atuação. O profissional que atua nesta área pode requerer sua habilitação junto ao CFO. A expectativa é que, ainda este ano, esta área seja reconhecida como mais uma especialidade odontológica. 

A Odontologia Hospitalar é responsável por elaborar e executar protocolos de higiene bucal; realizar procedimentos de diagnóstico de lesões orais e realizar tratamentos odontológicos em alta complexidade em UTIs. 

Hoje, em razão da pandemia, pacientes com covid internados em UTIs demandam cuidados globais com a saúde e uma equipe especializada e vigilante. Dentre os profissionais necessários durante esse processo, está o cirurgião-dentista que exerce um papel fundamental para controlar as infecções da cavidade bucal que podem prolongar a permanência do paciente no hospital. O estado de saúde do paciente com covid-19 pode ser agravado, caso sua higiene bucal não seja realizada de maneira correta. Uma boa higienização da cavidade bucal pode evitar, principalmente, problemas pulmonares. 

A literatura odontológica tem demonstrado a influência da condição bucal na evolução do quadro de pacientes internados e estudos indicam que pacientes em UTI apresentam higiene bucal deficiente, com a possibilidade de redução do fluxo salivar, em razão do uso de medicamentos, o que gera um aumento do biofilme. A presença de um biofilme bucal, bem como a de doença periodontal, podem atuar como fontes de infecção hospitalar. Bactérias presentes na boca podem ser aspiradas e causar pneumonias de aspiração. Para reduzir os riscos de mortalidade de pacientes que contraíram pneumonia durante o período de internação, são empregadas ações mecânicas e farmacológicas, que podem ser associadas. As ações mecânicas envolvem a escovação dentária e limpeza dos tecidos dentais e tecidos moles adjacentes. Já as ações farmacológicas consistem na descontaminação das estruturas bucais com uso tópico de antissépticos.

A higienização pode ser feita com uma escova especial que faz a sucção de secreções e um gel à base de clorexidina a 0,12%, duas vezes ao dia. Para profilaxia das áreas edêntulas, das mucosas, língua e lábios utiliza-se um swab ou um palito de madeira envolvido em uma gaze, também umedecido na solução a base de clorexidina 0,12%. Associado a esses cuidados e, em razão de uma redução do fluxo salivar, o que é comum em pacientes hospitalizados, faz-se uma aplicação de vitamina E nos lábios e mucosas para uma hidratação. 

No caso dos pacientes submetidos a traqueostomia ou intubação orotraqueal, é necessário ainda mais cuidados, sendo que estes, devem ser executados pelo profissional de Odontologia, juntamente com a equipe de Enfermagem. É fundamental promover a adequada limpeza eficaz das estruturas bucais e do tubo orotraqueal. Nesses pacientes, a pneumonia associada à ventilação mecânica é uma das principais causas de morte e permanência no leito. Os procedimentos de higiene bucal são semelhantes aos já mencionados, mas aqueles que estão intubados e pronados precisam de atenção redobrada, porque a presença do tubo orotraqueal e a própria posição adotada (pronação – técnica em que o paciente é colocado de barriga para baixo) dificultam mais ainda os protocolos de higienização. 

Assim, a presença do cirurgião-dentista junto a equipe multidisciplinar hospitalar é fundamental para contribuir de forma significativa com a melhora do quadro clínico desses pacientes. A Odontologia Hospitalar é uma forma de atuação profissional que tem se tornado cada vez mais reconhecida, aumentando ainda mais as possibilidades de atuação do cirurgião-dentista no mercado de trabalho.